Ela ama minha barba. Encarei o espelho e odiei a pessoa que me olhou de volta. Passei a espuma, peguei a navalha e passei-a rente ao meu rosto. E em menos de dez minutos parte da minha identidade foi apagada. Joguei água gelada no rosto, sequei com uma toalha áspera e logo em seguida manchas vermelhas apareceram e sangue escorreu timidamente pelas minhas bochechas.
Olhei no espelho por alguns instantes e observei aquela pessoa, não soube o que sentir e gostei dessa sensação. Limpei o rosto com a toalha, balancei a cabeça e sai do banheiro. Pelo corredor, passei por fotografias antigas e felizes. Desci as escadas e encontrei Carla bebendo vinho e fazendo o jantar, não fui incomodá-la. Peguei meu celular e subi novamente, passei pelos quartos e entrei num quartinho, solitário, que ficava no fim do corredor.
Destranquei a porta e entrei no apertado espaço que ali era. Nas paredes, caixas com diversas coisas que, na maioria esmagadora, eram minhas. Caixas com meus CDs antigos, meus livros e histórias em quadrinhos. Meu violão estava ali, jogado no canto quase empenado, ao lado da minha guitarra. Ali havia antigas camisetas que Carla achava que não eram “adultas” que eu recusei jogar fora.
Separei meus CDs, filmes e livros e os coloquei em uma caixa separada das outras. Havia um tempo que eu já fazia isso. A única coisa que faltava era a coragem de ir embora. Escutei a campainha e olhei no relógio, quase oito horas, minha irmã já havia chegado.
Sai dali levando um box de DVDs, bati a poeira que ficara na minha roupa e desci. Carla abrira a porta e eu os encontrei na sala. Minha esposa nada comentou, mas minha irmã sorriu ao me ver. Seu esposo fez uma piadinha sem graça, mas meu sobrinho não gostou do que viu.
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