Quando eu cheguei em casa, depois do enterro da minha avó, meu estômago continuava pesado e a minha cabeça doendo. Nos últimos anos eu não tinha mais o mesmo contato de antes com ela porque mudei de cidade quando formei em jornalismo e com o trabalho eu não tinha muito tempo para ligar para a minha família, mas, mesmo assim, o meu relacionamento com a dona Rosamaria nunca enfraqueceu, ela sempre foi a minha pessoa favorita do meu núcleo familiar.
Tomei uma xícara de café na cozinha da casa, que antes eu vivia com minha família, depois fui para o meu antigo quarto, descansar antes de ajudar a minha mãe a guardar os pertences da minha avó. Eu não cheguei a sonhar no curto tempo que descansei, não posso chamar aquilo de sonho porque foi mais um clipe com um compilado de lembranças que eu tinha da infância, todas relacionadas a minha avó. Mesmo não estando consciente, eu senti meu coração bater mais forte só de reviver aquilo tudo, os próximos dias iriam ser os mais difíceis, mesmo longe da minha cidade natal, me acostumar com a ideia de que nunca mais poderei ver a dona Rosamaria novamente deixa meu peito apertado e as minhas emoções a flor da pele.
Minha avó era uma mulher tão incrível, com ideias tão modernas levando em conta a época em que nasceu. Ela defendia a independência das mulheres, os direitos LGBTs e quando podia participava de eventos desses grupos que aconteciam em nossa cidade, sempre muito bem recebida e tratava todo mundo com respeito e dignidade, não importava orientação sexual, etnia ou identidade de gênero. Eu a admiro por isso, conseguir ser tão cabeça aberta, diferente de algumas pessoas da minha geração. Eu penso que Rosamaria era assim porque ela deve ter vivido algumas histórias que foram importante para a sua formação, às vezes eu me pegava pensando o que poderia ter sido.
Fui acordada pela minha mãe, que batia à porta aberta do quarto, enquanto me chamava pelo nome:
— Emília, Emília… — “Toc, toc, toc” do seu punho fechado batendo na porta. — Emília, acorda para me ajudar a arrumar as coisas da tua avó, guria… Ainda tu tem que ver aquela caixa que ela deixou para você.
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